
As videolocadoras dos anos 80 e 90 foram muito mais do que balcão, prateleiras e fita VHS. Elas eram pontos de encontro, palco de histórias e fábrica de lendas urbanas.
Algumas tão estranhas que parecem invenção, mas eu vi — ou ouvi direto da boca de quem estava lá. Aqui vão cinco relatos bizarros que marcaram aquele tempo.
1) A Cliente “Maria”
Relato de Elton Silva – Cinemania Vídeo
Elton ainda lembra como se fosse ontem. Uma mulher elegante, salto alto, roupas finas, cabelo arrumado, entrou na locadora com pressa. Disse se chamar Maria Fernanda, mas pediu:
— Coloca só “Maria” na ficha, é mais rápido. Depois eu completo.
Assinou correndo a retirada da fita, disse que o chofer a esperava lá fora e sumiu. Não voltou nunca mais. Dias depois, Elton descobriu que ela já tinha aplicado o mesmo golpe em outras locadoras da cidade, sempre com o mesmo truque: o nome “Maria” — simples, genérico, impossível de rastrear — e a desculpa de ser “gente rica e ocupada demais” para burocracia.
No fim, Maria virou quase uma lenda das locadoras. Elegante, misteriosa, sempre em fuga — e sempre com uma fita debaixo do braço.
2) O Cliente Abduzido
Relato de Júlio Braga – Voyage Vídeo
Havia um cliente que todo mundo conhecia pelo apelido: “o Abduzido”. Toda vez que ia alugar um filme, trazia uma nova história com extraterrestres.
— Voltando da locadora, me perdi no caminho. Entrei numa cidade que não existe em mapa nenhum. Era outra dimensão.
— Ontem assistindo Contatos Imediatos, a TV apagou sozinha. Quando voltou, um ser falou comigo. Disse que em breve vou ser levado para Sírius.
O tal ser tinha até nome: Bruno. Toda semana havia um relato novo. O mais estranho: um dia ele realmente sumiu.
Não devolveu os filmes. Júlio foi investigar e descobriu a verdade: o cliente tinha esquizofrenia e estava internado numa clínica. O detalhe que congelou todos: o médico responsável pelo caso se chamava… Bruno.
3) A Locadora Assombrada
Relato de Edgar Souza – Star Filmes
Edgar montou sua locadora em um velho armazém. Reformou tudo, pintou, encheu de prateleiras. Só que o lugar parecia nunca aceitar a nova função.
Às vezes, logo cedo, o cheiro era insuportável — algo como carniça. Outras vezes, ao abrir a porta, encontrava todas as fitas caídas no chão. Clientes juravam ter sido empurrados por algo invisível. Havia momentos em que a sala gelava de repente. Edgar chamou técnico, conferiu ar-condicionado — nada.
Um vizinho antigo deu a pista: ali funcionara uma funerária muitos anos antes. Edgar e a família venderam a locadora pouco tempo depois. Até hoje, quando alguém pergunta da Star Filmes, ele só balança a cabeça:
— Aquilo nunca foi uma locadora. Era outra coisa.
4) O Menino “Santinho”
Relato de José Carlos Reis – Phantom Games
Na Phantom Games, havia um garoto que parecia saído de comercial de margarina. Quieto, educado, tímido. Todos chamavam de “Santinho”. Apanhava dos colegas, era o alvo fácil da rua. Talvez por isso todos sentissem pena e tratassem bem.
Santinho alugava muitos jogos, sempre com sorriso discreto. Até que um dia a bomba estourou: vários lançamentos recém-chegados estavam danificados ou, pior, com a placa trocada por jogos inferiores. Descobriram que, aos poucos, ele vinha substituindo cartuchos originais por versões baratas, sempre sem levantar suspeita.
A investigação revelou: Santinho trabalhava com os irmãos mais velhos num esquema de venda clandestina. No bairro de Osasco, já era conhecido como Capetinha.
Aquele menino “bom” não passava de fachada. Era ladrãozinho de cartucho — e deixou a Phantom Games com cicatrizes até hoje.
5) O Controle Que Me Perseguia
Relato Pessoal – Geração Games
Eu ia sempre à Geração Games. Jogava por hora, passava tardes inteiras. Até que um dia tropecei num fio de controle de Mega Drive e o derrubei no chão. Quebrou. O garoto que jogava ficou furioso, e um dos funcionários me perseguiu:
— Você vai pagar, moleque!
Desde aquele dia, parecia que ele me vigiava. Eu passava de bike, ele surgia. Na saída da escola, lá estava. Até no mercado. Eu cheguei a sonhar com ele atrás de mim, segurando o controle quebrado como se fosse prova de crime.
Parei de ir à locadora, até que criei coragem e contei pros meus pais. Fomos juntos falar com os donos. Eles pediram desculpas e disseram:
— Você não tem que pagar nada. E o funcionário vai ser repreendido.
Saí aliviado, mas com a sensação estranha de ainda estar sendo seguido. Anos depois, reencontrei aquele funcionário em outra cidade, vendendo controles usados numa feira. Ele me reconheceu, sorriu e disse:
— Tá tranquilo, garoto. Mas olha… cuidado com os fios.
Foi a primeira vez que ri daquela perseguição. Mas, no fundo, ainda sonho com aquele controle caindo no chão em câmera lenta.