Estava lá pelas tantas de Resident Evil 7, o último jogo que joguei antes da Copa do Mundo. Corria contra o tempo, queria zerá-lo antes de viajar. Vou mudar o termo – zerar um jogo é algo que não existe mais. Cabia 25 anos atrás, quando assistir aos créditos depois daquele último chefão representava realmente o fim de uma jornada. Já faz um tempo que isso praticamente acabou. Zerar um jogo hoje, a rigor, é ganhar todos os troféus que ele oferece. E haja disposição (e tempo) para isso.

Sendo assim, estava eu com a esperança de finalizar a história principal do RE7 o quanto antes quando me deparei com o único momento de escolha do jogo, daquelas bifurcações sem volta – é claro que se você não gostar do que fez, pode refazer, ainda bem, o videogame não é fatalista como a vida real. Se você morrer, tem outra vida, se você não gostou das consequências de uma decisão, bastar resgatar um save anterior e mudar de ideia. Mas qual é a graça de um jogo que oferece escolhas se você não está disposto a eventualmente errar e lidar com isso?

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Foi o que aconteceu comigo naquela casa infectada no interior do estado da Luisiana – prepare-se, haverá spoilers daqui para frente sobre todos os jogos que eu comentar, mas de leve. Havia apenas um antídoto para o vírus e duas pessoas que precisavam ser imunizadas, Mia, minha namorada, e Zoe, uma mulher que havia me ajudado a chegar até àquela altura dos acontecimentos.

Não se prenda ao enredo manjado e preste atenção aos meus critérios para tomar a decisão. Minha namorada estava muito mal por causa daquele vírus maldito, já havia tentado me matar algumas vezes. Chegou a amputar minha mão esquerda. Já Mia era integrante da família doentia, a única sã, havia arriscado muito para que eu não morresse. Além disso, era mais bonita, o que acabou tendo peso dobrado na escolha.

A verdade é que salvei Zoe e isso é culpa da Capcom. Não somente por causa do que havia acontecido, mas por uma mania que os japoneses têm. Seus protagonistas, todos eles, têm traços orientais, mesmo quando não o são. O jogo se passa nos EUA, todos os personagens são americanos, mas a desenvolvedora de jogos insiste em desenhar os rostos deles, especialmente os dos personagens mais importantes, como eles desenham a si mesmos.

E isso fica meio caricato. Não vejo a Rockstar ou a Ubisoft com dificuldade para reproduzir nos jogos personagens que não sejam americanos ou canadenses. Mas os japoneses parecem ver o mundo inteiro sob um prisma diferente.

O mesmo acontece em Metal Gear Solid V – The Phantom Pain. Não consegui gostar. Peço desculpas ao mundo, mas é a verdade. Talvez eu me aprofunde no assunto em uma outra ocasião. Mas antecipo: tem a ver com os japoneses.

Voltando ao Resident Evil 7 – preteri Mia e me arrependi por isso. Não fiquei com Zoe, a mais bonita, tive de ver minha namorada morrer, se redimir dos erros do passado e terminei o jogo sozinho, curtindo a maior fossa da vida. Para completar, preciso pagar por uma expansão para saber o que acontece com Zoe depois de encerrada a campanha principal. Ou então buscar o detonado no Youtube. Ambas opções são frustrantes.

Outro jogo com escolha no final é Far Cry 3, um dos melhores jogos de tiro em primeira pessoa que joguei na vida. Muito disso é graças a Vaas, principal vilão do jogo. Por falar nisso, você sabia que o cruel sequestrador foi interpretado pelo ator Michael Mando, que é Nacho Varga na série “Better Call Saul”? Pois é, o jogo foi tão marcante para mim que quando vi Michael pela primeira vez na série derivada de “Breaking Bad” tive a certeza de que conhecia aquele rosto de algum lugar. Era da ilha de Far Cry 3. Que descoberta maravilhosa.

Pois então, no jogo, minha escolha foi das mais fáceis. Depois de tudo resolvido, você tem duas opções: voltar para casa com os amigos que você resgatou ou permanecer naquela ilha tropical, a convite da sexy chefe de uma tribo local, uma espécie de feiticeira seminua, que procura um parceiro para procriar e governar os nativos ao seu lado.

MEGA SPOILER: DEIXAMOS OU EXCLUÍMOS?

É claro que escolhi ficar na ilha. No fim, você é morto pela feiticeira logo depois de transarem. Ela só queria seu esperma, na verdade. Um final maravilhoso que não deixou nada a desejar perante à jornada.

Caso excluamos, vou escrever uma “deixa” para o leitor…

“… voltar para casa com os amigos que você resgatou ou permanecer naquela ilha tropical, a convite da sexy chefe de uma tribo local, uma espécie de feiticeira seminua, que procura um parceiro para procriar e governar os nativos ao seu lado. Qual você escolheria?”

Mas em termos de escolhas, poucos jogos me deixaram tão dividido quanto Fallout 4. Quem gosta de liberdade precisa jogá-lo, ser envolvido pelo enredo como eu fui e viver a dúvida sobre qual caminho escolher para trazer um pouco de civilidade à região de Boston, depois que a explosão de uma bomba atômica transformou os EUA em uma terra devastada, repleta de animais mutantes, monstros deformados pela radiação, zumbis selvagens, saqueadores, além de meia dúzia de pessoas boas tentando sobreviver.

Você tem quatro caminhos diferentes e não precisa fazer sua escolha de imediato. Pode flertar com as quatro no decorrer do jogo, pesar prós e contras. O melhor, você pode mudar de ideia sem necessariamente regredir naquilo que conquistou até então. Foi o que eu fiz. Virei a casaca duas vezes. No fim, fui obrigado a matar meu filho, que tinha idade para ser meu pai. Confuso? Jogue o jogo. É longo, demorado, os gráficos não são nota dez, mas muito vale a pena.

Assim como o jogo cujas escolhas são o que há de mais importante, The Walking Dead, da Telltale Games, é ótimo pela protagonista cativante e pelas decisões que ela e as pessoas ao redor precisam tomar para sobreviver no apocalipse zumbi. Clementine começa como uma menininha no meio da catástrofe, cresce no decorrer dos jogos, e já é uma moça no quarto e último jogo que será lançado ainda este ano.

Os finais, independentemente das suas escolhas, são os mesmos, mas as decisões que você toma aproximam ou afastam determinados personagens, faz com que você seja visto de uma determinada forma e não de outra pelas pessoas que estão ao seu redor. Poderia ser a vida real, mas é apenas um videogame. Sem nenhuma conotação pejorativa nisso