*Os nomes e lugares foram trocados para preservar a identidade das pessoas narradas nesta história.
Neste mês venho relembrar uma história que aconteceu nas férias. Eu minha mãe , meu pai e meu primo o JeanFrancisco fomos passar férias na casa de minha avó que mora em Curitiba. Nem desconfiávamos do que iriamos descobrir nesta viagem .
Durante o percurso, passamos por vários locais conhecidos pelas suas lendas aqui no Paraná. Um deles é a ”Serra do Cadeado”, local onde, há muitos anos, descarrilhou um trem e todos os seus ocupantes morreram. Pela profundidade do local os passageiros nunca foram resgatados e o local é tido como mal assombrado. Outro local, já mais próximo de Curitiba, é uma ponte de onde se pode avistar, no alto de uma pedra, uma imagem de Cristo com os braços abertos.
Chegando na casa da minha avó, ela disse que iria nos levar para visitar a amiga que tinha o carinhoso apelido de “Corinthiana”. Eu e meu primo achamos que iria ser um pouco monótono mas minha avó incentivou , ela disse “Ô gurizada vocês vão gostar de conhecer a minha amiga Corinthiana e ela joga videogame.”
A minha avó tinha uma Brasília amarela que foi herdada do meu avô. Ela foi dirigindo enquanto eu e o Jean observávamos as ruas da capital. O prédio da Corintiana era bem antigo e ficava no centro da cidade. Eu percebia um certo medo na minha avó. Ela olhou para a gente e disse para não estranhar que a amiga dela era um pouco ”estranha”
Subimos por um elevador bem antigo que dava medo .A luz amarelada as vezes piscava como se fosse faltar energia. Minha avó disse que várias pessoas já tinham ficado presas naquele elevador. Ela tocou a campainha do apartamento numero 31 e uma senhora já beirando seus 70 anos de idade abriu a porta, a ”Corintiana”.
Ela era uma senhora com os cabelos encaracolados e mal pintados de ruivo, usava um óculos fundo de garrafa quadrado, no estilo ”chacrinha”. Tinha os dentes mal cuidados e as unhas por fazer e mal pintadas, ela nos convidou para sentar na sua casa que parecia um museu com móveis bem antigos e cheirando a mofo, no fundo da sala tinha uma televisão de tubo com um videogame DYNAVISION ligado. Ela estava jogando TETRIS. Ao fundo tinha uma bandeira do ”Corinthians”.
Minha avó nos disse que ela ficava o dia inteiro jogando videogame e os vizinhos achavam bastante bizarro. Ela ficava até altas horas jogando SUPER MARIO, GALAXIANS e vários jogos de NINTENDINHO no seu DYNAVISION. Eu e meu primo achamos super legal. Era um sonho de todo garoto dos anos 90 ficar jogando videogame o dia inteiro com a televisão só para si.
A corinthiana era casada com o médico Dr. Molina que segundo a minha avó nas horas vagas gostava de fazer filmagens e seu hobby era produzir videos amadores. Enquanto a Corinthiana zerava MARIO 3 o Dr. Molina se trancava no seu quarto e ficava apreciando seus videos. A Corinthiana nos disse que não sabia que tipo de vídeo o marido fazia e que ele nunca mostrava. Ele a proibia de mexer nas suas fitas. Ela nos disse que nem se interessava e que o negocio dela era detonar nos games que ela alugava na locadora.
Eu e o Jean bolamos um ”plano infalível” para entrar no escritório do Dr. Molina e tentar pegar uma fita para descobrir qual era o segredo que ele escondia. Combinamos que meu primo iria desafiar a Corinthiana para jogar ”SUPER CONTRA” e ver quem iria mais longe. Minha avó ficaria com eles na sala e eu inventaria uma dor de barriga para ir ao banheiro e ficar um tempo por lá.
Corintiana começou a jogar e estava indo bem, ela não tinha perdido nenhuma vida. Eu falei para a minha avó que estava com dor de barriga e iria ao banheiro. Fui andando pelo corredor e no final achei a biblioteca, abri a porta devagar e entrei, abri algumas gavetas e encontrei as fitas em um armário de madeira tinha várias coisas escritas como se fossem códigos que só ele entendia .Peguei uma fita que estava escrito algo do tipo ”x1002 , Rua” e coloquei dentro do shorts e cobri com a camiseta.
Cheguei na sala e meu primo tinha perdido para a Corinthiana na pontuação, ela levantava as pernas para o alto e comemorava. Neste momento o Dr.Molina chegou em casa, ele nos cumprimentou e chamou a Corinthiana de ”Xuxinha”. Eu o Jean morremos de rir. Minha avó tinha nos chamado para ir embora mas a corintiana me desafiou no ”DOUBLE DRAGON 3” disse que ninguém ganhava dela na pontuação. Eu aceitei o desafio achando que venceria fácil a velhinha mas acabei morrendo e não consegui zerar. A velhinha arrebentou no Double Dragon e ainda zerou o jogo. Minha avó ficou conversando com a Corinthiana e com o Dr. Molina enquanto eu mostrava para o meu primo a fita que consegui pegar escondido.
Fomos embora da casa da Corinthiana mas só conseguimos assistir a fita quando chegamos em Apucarana. Estávamos ansiosos para ver o que o Dr. Molina filmava e escondia da esposa. Fizemos até uma aposta de que ele seria um psicopata e filmava suas vitimas ou de que ele fazia experiências no hospital.
Mas quando colocamos a fita no videocassete descobrirmos que o Dr. Molina filmava várias mulheres bizarras e esquisitas. Eu e meu amigo não sabíamos se ríamos ou se chorávamos. No vídeo aparecia imagens de um lugar que parecia uma ”casa”. Tinha várias pessoas andando desde motoqueiros até homens de terno e gravata e na porta tinham mulheres se exibindo e eram mulheres ”muito feias” e ”bizarrras”.
O Dr. Molina parecia gostar, aparecia a voz dele no video dizendo para fazer ”cara de louca” e a mulher parecia a filha do ”exorcista” de tão assustadora. Não conseguimos ver o video até o fim porque estávamos com medo de ter alguma pornografia e a minha mãe chegar. Deixei a fita com o meu primo para ele esconder em sua casa. E nunca mais tive noticia desta fita, eu acho que ele deve ter visto alguma coisa muito assustadora nesta fita e não quis me contar mas ele me disse que teve vários pesadelos e tinha jogado a fita fora para a mãe dele não descobrir.
Esta aventura marcou a minha pré adolescencia nos anos 90 quando eu conheci este casal bizarro. A Corinthiana, uma senhora de 70 anos que jogava videogame o dia inteiro e seu marido o Dr. Molina, um homem que tinha uma vida dupla: era médico, casado e tinha uma coleção de videos ”bizarros” e ”po…..” que ele gostava de filmar e apreciar. Parece até enredo de um filme mas é a realidade. Até o próximo texto pessoal…