Foto: pulsevrx.com

Em nossa última postagem aqui no portal, conversamos sobre quais fatores nos movem a gostar tanto de jogos antigos. E, no meio de nossos apontamentos sobre o assunto, falamos sobre os emuladores. Com isso, levantou-se a seguinte questão: seriam eles vilões e fomentadores da pirataria? Ou seriam heróis por ajudarem no processo de preservação da história dos games? Particularmente, não sei ao certo. Mas, que tal você vir comigo e tentarmos juntos chegar a alguma conclusão sobre isso?

Mas o que raios é um emulador?

Primeiramente, precisamos entender o nosso objeto de debate. Em computação, o emulador é um software que tem a função de reproduzir as características e funcionalidades de um sistema. Tudo isso visando a execução de outros softwares utilizando o emulador para fazer todos os serviços em um hardware que não é o original.

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Ficou meio técnico demais, não é? Então, vamos tentar descomplicar. Emulador é um programa de computador que “imita” um outro sistema. Lembra do robô chefe em Mega Man 3, que simula as características e ataques dos chefes de Mega Man 2? Pois bem, é mais ou menos isso que um emulador faz. E se você não lembra ou não conhece esse chefe, corre pro emulador que você descobre (hahaha)!

Robô-emulador de Mega Man 3. Fonte: O autor

Como tudo começou

Historicamente, o primeiro emulador que se tem notícia foi criado em 1964 por um cara chamado Larry Moss. Ele era funcionário da IBM, aquela conhecida empresa de informática. Larry criou um software que seria capaz de fazer com que programas antigos da empresa rodassem nos novos computadores que estavam para ser lançados, os System/30.

Já a emulação de videogames começou no início dos anos 90. O Stella, emulador de Atari 2600, foi o primeiro a conseguir um nível de emulação de console bem próximo ao original. A partir dele, a comunidade começou a buscar cada vez mais formas de emular outras plataformas. Com o passar dos anos, cada vez mais consoles recebiam emuladores competentes. Logo, o cenário da emulação se consolidaria de vez no fim da década, onde praticamente todos os videogames de 8 e 16 bits já eram emulados com maestria.

Interface do Stella, um dos primeiros emuladores de videogames. Fonte: Google Imagens

Emulação e pirataria

Chegamos ao ponto crucial de nossa conversa. Os emuladores seriam responsáveis pela expansão da pirataria nos games? Vamos entender alguns fatos. Emular um jogo, por si só, não é uma prática errada. Teoricamente, você pode emular um software desde que possua uma cópia física dele. Porém, sabemos que não é isso que ocorre na realidade, não é galera?

Eu sei que você comprava cd’s de Playstation original…Fonte: Google Imagens

Infelizmente, muitas pessoas utilizam os emuladores como forma de pirataria. Sites e até empresas chegam a lucrar muito com a venda e distribuição de equipamentos que emulam jogos. Além disso, muita gente consegue emular um jogo que acabara de ser lançado no mercado. Sendo assim, não seria preciso adquirir o console e o software original para poder jogar o game, basta eu abrir meu navegador, baixar um programa que simule o console que quero, o arquivo em rom do jogo em questão e “catapimbas”! Já é possível desfrutar daquele título.

Os tão falados Direitos Autorais

Com relação aos jogos mais antigos, caímos no mesmo cenário. Você não possui o jogo original em cartucho, muito menos o console. Mesmo assim, baixa o emulador juntamente com a rom do game e tem em suas mãos a diversão. Porém, a empresa detentora dos direitos sobre o software não está recebendo nenhum centavo com isso. E de acordo com a Lei de Direitos Autorais e Lei do Software, aquele jogo que você baixou está amparado pela legislação de proteção aos direitos autorias por 50 anos a partir do primeiro dia do ano seguinte ao de sua criação. Muito louco não é?

Por muitos anos as empresas fizeram vista grossa para a emulação. Mas recentemente esse cenário mudou. De 2018 pra cá, a Nintendo levou aos tribunais vários sites que distribuíam gratuitamente as roms dos jogos referentes às suas propriedades intelectuais. Além disso, a companhia japonesa cobrou de cada portal indenizações altíssimas, visto que muitas pessoas lucravam ilegalmente com seus produtos. E assim, vários sites foram desativados e outros passaram a não distribuir mais nada relacionado à Nintendo. E as outras empresas? Essas até agora não decidiram correr atrás disso.

O que as produtoras tentam fazer é distribuir em seus catálogos on-line alguns jogos de seus consoles antigos, para que seu público possa reviver as boas lembranças. E de quebra, lucram com a venda desses títulos, pois para que se possa jogá-los, é necessário que se pague por eles. Mas, e os jogos que não entram nesses catálogos? Como fazer para ter acesso? É aí que entra o outro ponto de vista de nossa conversa…

Emulação e curadoria histórica

A sociedade tem a necessidade de catalogar seus feitos e suas conquistas, bem como sua trajetória nessa terra. E suas produções intelectuais também passam por esse processo. Temos as bibliotecas, as videotecas, os museus e muitas outras formas de tentar preservar essa história produzida por nosso povo ao longo do tempo. Mas…e os videogames? Quem está preservando e catalogando tudo que já foi produzido até aqui?

Há um desejo de preservação histórica de tudo feito até hoje relacionado aos videogames. E, a meu ver, os emuladores tem um papel importante nesse processo. Muita coisa você já consegue ter acesso através das lojas on-line das empresas de games, a exemplo da PSN e do Nintendo E-shop. Mas e se aquele joguinho que você jogou lá em sua infância não estiver no hall de jogos ofertados? Como você poderá jogá-lo?

Mudança de prisma

É aí que os emuladores saem da condição de Bowser para o lugar de Mário. Quer dizer…deixam de ser vilões e passam a ser heróis. Muita coisa foi produzida ao longo desses mais de 40 anos de jogos eletrônicos, e é através dos emuladores que tudo isso se mantem vivo. Semelhante à biblioteca de sua cidade, na qual você encontra um exemplar de Dom Casmurro para se deleitar em seus parágrafos e histórias, o emulador está ali. Nele você dispõe de toda biblioteca de games já lançada para um console, dando a possibilidade para que seja possível jogar um game que não é mais encontrado em mídia física nem nas plataformas atuais.

Quando me dizem que o emulador é como uma biblioteca. Fonte: Google Imagens

E as novas gerações? Como saberão de onde vieram os heróis que elas hoje jogam em seus consoles e até mesmo estampam suas camisetas? A resposta é: emulação! A não ser que você tenha o console original guardado, com seus jogos e seus itens, a única forma de mostrar para suas futuras gerações os games que você jogava quando criança será através do emulador. E isso é fantástico! Não só existe uma curadoria histórica quanto há um processo de imortalidade, onde os games se mantem vivos e com todos os seus elementos de diversão caso alguém busque fruir de seus desafios.

E aí, chegamos a algum consenso?

Decidir se os emuladores são mocinhos ou vilões não é uma tarefa fácil. Mas, diante do que expomos em nossa breve conversa, penso que os emuladores são mais mocinhos do que vilões. Entendo todas as questões que envolvem as leis de direitos autorais, e acho tudo isso justo e correto. Senso assim, se você pode adquirir um jogo por vias legais, pagando pelo software, faça isso.

Entretanto, o meu coração bate mais forte pelo amor à catalogação histórica. Toda essa possibilidade de podermos ter acesso a jogos que jogamos quando criança, ou até mesmo aqueles que nem tivemos acesso, me fascina demais! Por mais subversivo que possa parecer, o papel da emulação é fundamental para que toda essa história dos jogos eletrônicos seja mantida viva ao longo das futuras gerações. Aos emuladores, os Robin-Hoods da tecnologia, só tenho uma coisa a dizer: Muito obrigado!

E você, qual seu ponto de vista sobre o assunto? Sinta-se à vontade para comentar e deixar sua opinião. E muito obrigado a todos que chegaram até aqui. Cada texto é feito com muito carinho para vocês. E se Deus quiser, voltaremos em breve para um texto novo sobre videogames velhos. Abraço!