Na coluna passada tratamos aqui sobre as origens do RPG de video game no mercado japonês, com o lançamento de Dragon Quest. No ano seguinte, um dos verdadeiros colossos da história dos jogos chegava às lojas, Final Fantasy. Mas antes desse lançamento, temos que voltar um pouco no tempo. Direto para um período no qual a SquareSoft ainda não possuía esse nome.
O cyber café com o Apple
Em 1983, uma empresa chamada Den Yu Sha, que trabalhava no campo de construção de postes elétricos, resolveu que iria apostar no ramo de desenvolvimento de softwares. Para isso, uma subsidiária foi criada, e fora batizada de Square. O cabeça da companhia era um rapaz chamado de Masafumi Miyamoto, que nada tem a ver como Shigeru Miyamoto.
O jovem dono teve uma brilhante ideia. Como ele não conhecia muitos desenvolvedores, resolveu abrir um café, com dois computadores Apple II. O estabelecimento atraia muitos jovens que não possuíam condições de adquirir um PC. Dentre os clientes, dois deles se destacavam, Hironobu Sakaguchi e Hiromichi Tanaka. Miyamoto percebeu que havia encontrado duas joias e os convidou para trabalhar, em meio período, na Square, já que ambos frequentavam a faculdade.
A dupla, então, começaram a trabalhar juntos. Eles produziam games para PC, pois Miyamato ainda não acreditava, totalmente, no potencial do NES, o console da Nintendo. E, em 1984, chegava o primeiro game da Square, Death Trap. O game era uma Graphic Novel que se passava no período da Guerra Fria.
No ano seguinte, em 1985, chegava ao mercado a continuação de Death Trap, Will: Death Trap II, que não foi tão bem recebido pelo público e crítica. Para continuar trabalhando, a Square passou então a trabalhar em versões de jogos de outras empresas. Assim, publicou uma versão de Dragon Slayer (Falcon), já com alguns elementos de RPG, para o MSX. Na mesma época, Nobuo Uematsu foi contratado para produzir a trilha sonora dos games da empresa. E tudo mudou no ano seguinte.
Enfrentando o mundo
Masafumi Miyamoto percebeu que deveria se arriscar. Resolveu que iria deixar as asas da Den Yu Sha e transformar a Square em uma empresa independente. Assim nasceu a Squaresoft, e para mudar as coisas, convidou Sakaguchi, Tanaka e Uematsu para trabalhar em tempo integral. A partir de então, cada vez mais jogos começaram a ser produzidos. Mas Sakaguchi não estava muito feliz.
Apesar de produzir cada vez mais jogos, nenhum deles conseguia destaque no mercado. Em 1986, Sakaguchi, se inspirando em Wizardry e Ultima, queria produzir um game com características semelhantes, no entanto foi vetado pois não era interesse da empresa. Neste período, a Square produzia jogos com qualidade duvidosa e, por muitas vezes, parecido com títulos da Sega.
Para complicar as coisas para a empresa, naquele mesmo ano, a Enix jogou uma bomba no mercado. Chegava Dragon Quest, que revolucionou a forma como se jogava RPG nos consoles de mesa. Com uma história sólida e um bom sistema de combate, o game foi extremamente bem recebido pelo público e pela crítica. Chegou a hora da Square produzir o seu próprio RPG. E essa era, também, a última aposta de Sakaguchi.
O início do Final
Hironobu Sakaguchi havia chegado em um impasse, ou continuava a fazer jogos que não o agradavam, ou desistia daquilo e voltava para a faculdade. Após receber o sinal verde para, finalmente, produzir o seu RPG, ele tinha apenas um pedido, fugir o máximo possível da fórmula utilizada em Dragon Quest.
Para isso, Sakaguchi resolveu que iria juntar o melhor dos dois games que mais gostava, Ultima e Wizardry, mas com uma diferença, a batalha ocorreria em um cenário próprio. Isso revolucionou a forma como se viam as batalhas em jogos de RPG, se tornando praticamente um padrão em toda a indústria até hoje.
A história do game seguia a aventura dos quatro Cavaleiros da Luz (Light Warriors, em tradução literal) em uma jornada através do tempo e do espaço para derrotar o poderoso cavaleiro da trevas Garland. A grande sacada do game foi permitir com que o jogador escolhesse as classes dos seus personagens, dando uma maior customização e tornando cada aventura única. Na trilha sonora, Nobuo Uematsu estava extremamente inspirado e produziu pérolas que são reconhecidas até hoje, apesar de toda a limitação do NES.
Com tudo pronto, chegou a hora de dar o nome ao game. A Square e os produtores queriam utilizar o acrônimo FF, e chegaram ao nome Fighting Fantasy, mas não foi possível, uma vez que já tinha patente. Sakaguchi então sugeriu Final Fantasy, já que, para ele, seria uma ultima aposta no mundo dos games. Todos aprovaram, e nascia uma das melhores franquias de JRPG da história dos games.
O produtor levantou ainda mais uma questão para a Square. Quando ele soube que seriam produzidos 200 mil cópias do cartucho para o NES, achou que fosse pouco. Além disso, ele sabia que uma possível reposição iria demorar, o que poderia afetar as vendas do jogo, e uma possível sequência.
Depois de muita briga, a Square resolveu dobrar o pedido. Com os cartuchos em mãos, Sakaguchi foi em diversas revistas especializadas e uma delas abraçou a sua causa. Os editores da Famitsu se apaixonaram pelo game, e deram uma nota 34 (considerando 40 o máximo). Isso fez com que os jogos vendessem rapidamente, garantindo assim, uma sequência, e a permanência de Sakaguchi no mundo dos games.
O Final que não teve fim
Final Fantasy é hoje uma das principais franquias da história dos games. Atualmente, a franquia possui quinze jogos, na sua linha principal, e uma série de Spin Offs e sequências. Sakaguchi seguiu o seu próprio caminho e não mais está na Square. Anos se passaram e a empresa, criadora de Final Fantasy, se fundiu com sua maior rival, a Enix, formando assim a Square Enix. Mas isso é história para um outro dia.