Se você estava vivo em 1995 (e provavelmente era uma criança ou um adolescente), é quase certeza que você era fã dos Cavaleiros do Zodíaco, e atazanou os seus pais para levarem você aos cinemas, para assistir ao “filme” com os personagens, essenciais para a popularização dos animes no Brasil.

Em 14 de julho de 1995, chegou a hora de curtir os heróis da TV nos cinemas com Os Cavaleiros do Zodíaco: O Filme, conhecido posteriormente como A Lenda dos Defensores de Atena ou A Batalha de Abel.

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O longa veio ao Brasil com status de “filme”, mas na verdade era o terceiro filme de Saint Seiya, lançado no Japão em 1988, mas que aproveitou a febre dos Defensores de Atena no Brasil, em dias bem diferentes dos de hoje, onde não havia Internet poderosa o suficiente para fãs terem acesso direto a obras não lançadas no Brasil.

Com uma bilheteria impressionante, que passou do milhão de ingressos vendidos nos cinemas brasileiros, e um impacto cultural que consolidou os Cavaleiros como grandes nomes do entretenimento no Brasil, o filme se tornou um marco, deixando bem claro que os animes haviam chegado para ficar.

O Contexto: A explosão do Cosmo dos Cavaleiros no Brasil

Antes da estreia no cinema, Os Cavaleiros do Zodíaco já eram um fenômeno na Manchete. A emissora carioca, que já estava colhendo os frutos com o sucesso de heróis japoneses como Jaspion ou Jiraiya, dobraria a aposta com os animes.

E, desde a estreia, em setembro de 1994, rapidamente a história conquistou uma legião de fãs. Suas histórias, envolvendo jovens defensores que vestiam armaduras variadas em batalhas envolvendo a cultura grega envolvidas em temas como amizade, coragem e superação, deu certo no Brasil e inaugurou uma nova oportunidade de lucros, com os mais variados produtos.

A dublagem brasileira, realizada pela Gota Mágica, também foi fundamental para o sucesso, pois trouxe vozes inesquecíveis como a de Hermes Baroli (Seiya) e Francisco Bretas (Hyoga), que são lembrados, até hoje, pelos fãs.

O resultado disso foi uma inundação de produtos com a febre dos Cavaleiros, que queimava tanto quanto os cosmos dos cavaleiros mais poderosos. Onde você ia, da feira do seu bairro até os shoppings mais badalados, produtos como brinquedos, álbuns, revistas e camisetas estavam vendendo como água.

Vários shows com os personagens, vestidos por intérpretes variados, rodavam o Brasil ou animavam programas de TV. E até um CD, com músicas inspiradas nos personagens, foi lançado, mostrando como o anime era, de fato, um sucesso.

Logo, uma estreia no cinema seria, com certeza, uma grande oportunidade de transformar esta febre em um evento, com a pompa de uma estreia cinematográfica, o que foi sabiamente explorado, ao levar uma produção “spin-off” da saga original, apresentada como um “desafio supremo” para os Cavaleiros de Atena.

Chega de Santuário: o inimigo agora é Abel!

Lançado originalmente no Japão em 1988, A Lenda dos Defensores de Atena (Saint Seiya: Shinku no Shōnen Densetsu) apresenta uma história única, com começo, meio e fim, diferente dos episódios que passavam diariamente na Manchete.

Inclusive, lembra de quando o anime “resetava” para o primeiro episódio, quando Seiya chegava na Casa de Leão? Eram, definitivamente, outros tempos…

Nesta produção, os fãs conhecem uma história inédita, centrada no confronto entre os Cavaleiros de Bronze e Abel, o deus do Sol e irmão de Atena. Na história, Abel é uma nova ameaça, que visita a Terra, acompanhado de seus Cavaleiros do Sol e de Cavaleiros de Ouro trazidos de volta à vida após suas derrotas na Saga das 12 Casas, com o objetivo de destruir tudo, punindo a humanidade por sua maldade.

Por isso, Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun e Ikki precisam trabalhar juntos de novo, vestir suas famosas armaduras, e unir forças para proteger Atena e salvar o planeta, enfrentando novos desafios, com o famoso “apanha, levanta, busca energia sabe-se lá de onde e supera o inimigo”.

O filme funcionou nos cinemas por causa de sua animação vibrante, trilha sonora marcante e momentos emocionantes que mantém a essência do anime. Cenas como o sacrifício dos Cavaleiros de Bronze durante a jornada, e o confronto final contra Abel ficaram gravadas na memória dos fãs, especialmente para aqueles que vivenciaram a experiência nas telonas.

A recepção de Ouro nos Cinemas Brasileiros

Quando Os Cavaleiros do Zodíaco: O Filme estreou nos cinemas brasileiros, os fãs deram o recado e o impacto foi imediato. Distribuído com o título inicial de Os Cavaleiros do Zodíaco: O Filme, o longa atraiu mais de 1,048 milhão de espectadores, um número expressivo para a época.

Segundo registros, o filme bateu recordes de bilheteria, consolidando-se como um dos grandes sucessos cinematográficos de 1995 no país.

E, obviamente, quem ia no cinema assistir, saía de lá totalmente emocionado. Crianças e adolescentes na época lotavam as sessões, torcendo pelos Cavaleiros “ao vivo” e, juntos, vibrando com cada golpe desferido, como em uma partida de futebol.

Como o filme foi dublado pela mesma Gota Mágica, com o mesmo padrão do anime da TV, a conexão foi ainda mais profunda, garantindo uma experiência única, para quem viveu este momento sentado em uma poltrona de cinema, com uma bacia de pipoca na mão.

O legado cultural digno de uma lenda grega

O sucesso deste filme nos cinemas brasileiros não foi apenas um evento isolado, mas simboliza um momento ímpar do entretenimento nacional. Pois mostrou, de forma visível, a paixão de milhares de crianças e adolescentes pelos Defensores de Atena, mostrando o quão engajados e conectados com a franquia eles eram.

Pouco tempo depois, o filme chegou nas locadoras em VHS, sendo alugado e disputado por quem já tinha ido ao cinema, e por quem queria ver esta aventura pela primeira vez. Mais tarde, com a “segunda onda” dos Cavaleiros, causada por um novo sucesso na Band, fez com que a busca pelo DVD da história voltasse a ser maior.

E, foi este movimento, que provou que os animes tinham, definitivamente, lugar no Brasil. A própria Manchete seguiu investindo nestas produções, até fechar as suas portas, trazendo Shurato, YuYu Hakusho e tantos outros.

O SBT, por sua vez, investiu em Dragon Ball e Street Fighter 2V. E mais tarde, até a Record, com Pokémon, e a Globo, com novos episódios de Dragon Ball, Digimon e vários outros, popularizaram ainda mais as produções japonesas em nosso país.

E você? Assistiu a este filme no cinema? Ainda lembra do sabor da pipoca enquanto via Seiya e seus amigos enfrentando os mais poderosos inimigos, além de rever “velhos amigos”? Pois é, pois tudo isso já está fazendo 30 anos, em um legado que, felizmente, manteve o cosmo do anime aceso no coração não só daquelas crianças, como das gerações que viriam depois, que também seriam apresentados a tantas aventuras incríveis.