Imagine que quando a geração 32 bits começou a ser projetada, as empresas decidiram que ainda era cedo para investir nos polígonos e que o caminho para os jogos dos novos consoles seria aprimorar os sprites e encontrar outras soluções para criar o efeito de profundidade 3D.

Pense também que decidiram levar essa proposta para um jogo de corrida com paisagens deslumbrantes, trilha sonora alucinante e jogabilidade desafiadora. Agora volte para o presente, você não precisa mais imaginar: Aperte start em Slipstream!

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Lançado originalmente em 2018, Slipstream retorna em nova versão. A responsável pelo lançamento é a Ansdor, desenvolvedora de um homem só, Sandro Luiz de Paula, sediada em Ipatinga (MG). Responsável também por Meow Sushi Night e Ultra Type-R, o brasileiro fez o game de corrida praticamente sozinho, contando apenas com o auxílio do estadunidense Stefan Moser (Effoharkay), que criou a trilha sonora e os efeitos sonoros.

Para o desenvolvimento foi usada uma engine Pseudo3D, desenvolvida exclusivamente para o jogo, que faz uso da técnica de sprite scaling para criar a ilusão de profundidade, sem utilizar gráficos em três dimensões.

O game começa chamando atenção por sua identidade visual. Há fortes referências aos jogos originais do Sonic nos menus, além de incluir efeitos VHS e a possibilidade do jogador utilizar filtros para a emulação de uma tela CRT e do sistema de cores NTSC, entre outros.

Além disso, a aparição gradual de chuviscos – como uma televisão com problemas de sinal – após uma derrota e os efeitos da transição entre estágios potencializam a estética retrô do jogo, que foi desenvolvido em sistemas Linux usando ferramentas de software livre.

Slipstream – Imagem Divulgação

Mas o grande destaque visual de Slipstream são suas 20 pistas. Fãs do ouriço azul da Sega foram contemplados com as referências de alguns estágios: Ice Cap, Emerald Hills e Marble Garden remetem diretamente à trilogia original do Sonic no Mega Drive.

Além destas, estão presentes fases inspiradas em lugares reais, como Akagiyama (Japão), Valley of the Kings (Egito) e Villa Rica (Brasil), baseada na cidade histórica de Ouro Preto, no estado de Minas Gerais. Prepare-se para muitas curvas, túneis, coqueiros, praias e pores do sol, coloridos por tons de rosa, azul e verde nostálgicos.

Compondo a estética do jogo, a trilha sonora do artista Effoharkay une-se ao visual matador de Slipstream. Gravadas com um sintetizador Yamaha DX21, direto dos anos 1980, as 23 faixas que estimulam a velocidade durante as corridas (“Final Pass”), induzem o jogador a uma sensação de sonho (“Driving A Dream”) e decoram paisagens nostálgicas (“Top Down Night”), entregam a boa dose de simulação de ambiente que a estética retrô do Synthwave propõe. A única questão sobre essas músicas é: Quando poderemos ouvi-las em um LP?

Slipstream – Imagem Divulgação

Ainda que tudo seja belo aos olhos e ouvidos em Slipstream, os carros mereciam mais destaque em seu design. Embora sua simplicidade – que permite troca de cores apertando os direcionais para cima e para baixo durante a seleção – não altere a qualidade do jogo, gamers acostumados com as Ferraris e Porsches de Out Run e Top Gear podem sentir falta dos aerofólios e faróis detalhados nas pistas.

Entre os veículos do game, o que mais chama atenção é a caminhonete não-selecionável que aparece no tráfego, com clara inspiração em clássicos como a Ford F-100 e a Chevrolet C-10, presente na memória afetiva de muitos brasileiros com suas pinturas em duas cores.

Dirigir as cinco máquinas do game, que possuem características próprias divididas entre Velocidade Máxima, Aceleração e Controle, é um grande desafio. Mesmo jogadores acostumados com clássicos de corrida precisarão dominar as mecânicas de derrapagem e rebobinar, essenciais para o êxito no jogo. Em relação à primeira, vale a pena gastar algum tempo no tutorial para aprender a executar bem o comando – sem ele a derrota é garantida.

Quanto ao segundo, de fácil domínio, a dica é sempre usar o recurso até o final, voltando os cinco segundos disponíveis no tempo. Também é possível conseguir um boost de velocidade – batizado com o mesmo título do jogo – posicionando-se atrás de um carro e, assim, reduzindo o atrito com o ar. Aproveite as dicas!

Slipstream – Imagem Divulgação

Há seis estilos de jogo em Slipstream. Grand Prix é o campeonato clássico, com corridas ranqueadas e customização opcional dos carros. Corrida Única é o desafio simples, com apenas um estágio. Cannonball é um modo rally, com cinco fases conectadas. No Battle Royale o corredor na última posição é eliminado ao fim de cada pista.

Em Grand Tour é preciso correr contra o tempo (e pilotos rivais) em cinco níveis com seleção de caminhos, como em Out Run. Ainda há o Desafio de Tempo, em que o jogador tem a missão de vencer seus próprios recordes. As quatro primeiras modalidades estão disponíveis no Multijogador, que permite duelos entre até quatro jogadores em multiplayer local.

A sensação ao jogar Slipstream é a de que você está diante de um jogo do Saturn que foi engavetado e redescoberto 25 anos depois. Com visual que remete diretamente aos clássicos, suas novidades lhe conferem um frescor, com elementos das estéticas Vaporwave e Synthwave e jogabilidade característica de games de corrida atuais.

Um presente para os olhos, ouvidos e mãos, a obra-prima da Ansdor mostra que os sprites continuam não devendo nada aos polígonos, e que uma boa dose de velocidade com música de qualidade sempre será diversão garantida.

Slipstream – Imagem Divulgação

Slipstream está disponível para PC, Nintendo Switch, Playstation 4 e 5, Xbox One, Séries S e X.