O relato a seguir é real. O ano era 1992. Nesta época eu estava estudando no Colégio Braga Cortes mais conhecido como “Quarto Grupo” pois as classes iam até a quarta série. Na época eu tinha uma professora chamada Cleonice, ela era polaca e tinha a cara de brava.
Nesta escola eu conheci o Ricardo apelidado de “fofão” pelas suas bochechas e o Juliano que tinha o apelido de “Sapatudo”. Era um ano muito importante teve o impeachment do Collor, a morte de Ulysses Guimarães e as Olimpíadas. Neste colégio, estudava uma menina chamada Michele, ela era loira, tinha os olhos verdes e quando eu a vi meu coração acelerou e eu fiquei apaixonado.
Nessa época eu tinha 10 anos de idade, era um garoto muito tímido com as mulheres apesar de ser uma criança hiperativa e jogava bastante videogame. Eu aprontava bastante e virei uma “lenda” no colégio no dia em que pulei o muro em pleno Recreio na frente de todo mundo. A molecada do Colégio inteiro foi toda no muro para me ver na rua, achavam que eu estava matando aula mas na realidade foi uma brincadeira.
A DOR NO CORAÇÃO E AS PEDRAS NO CARRO DA PROFESSORA
Teve o dia em que eu disse que estava com dor no coração. A diretora chegou até a chamar meus pais. Me lembro da professora falando:
Professora: Nossa com essa idade e já tem problemas no coração
Eu respondi,
Semi: É que eu comi muito Chips no recreio
Eu me desentendia bastante com a minha professora Cleonice e resolvi aprontar com ela. Ela tinha um Chevette antigo branco que deixava sempre estacionado na frente da escola. Daí eu peguei um monte de pedras e coloquei no motor do carro dela, alguns colegas viram e me delataram.
A professora me pegou no flagra colocando essas pedrinhas no carro dela. A molecada do colégio estava toda em volta de mim observando o “herói” que tinha coragem de fazer o que eles não tinham. A professora ficava com o rosto todo vermelho quando ficava nervosa mas nesse dia seu rosto chegou a ficar “azul” de raiva. Ela contou para meu pai que me deu uma bronca mas também tirou um sarro:
Pai: Onde já se viu Semi colocar pedras no carro da mulher e ela ainda veio encher meu saco por causa desta porcaria de carro velho.
NÃO TIRAVA A MICHELE DA CABEÇA
Os dias foram se passando e o meu foco e minha atenção estavam voltados para a Michele. Eu dormia pensando nela e acordava pensando nela. Jogava videogame e ficava imaginando ela jogando comigo. Escutava música e me imaginava beijando ela. Qualquer sorriso que ela me dava e qualquer conversa que eu tinha com ela eu ficava todo desconcertado sem saber o que dizer e o que fazer.
Teve um dia que eu passei em frente ao “Cine Foto Fanny” e me deparei com um porta retrato com a foto da Michele na vitrine. Perguntei para o vendedor da loja sobre a foto e ele me disse que era foto de uma cliente. Eu perguntei se ele poderia me dar a foto e ele disse que daria desde que a dona da foto autorizasse. Nesta foto a Michele estava com uma roupa country e usando Chapéu na cabeça.
O ZÍPER DA CALÇA
Conversando com os meus colegas eu descobri que ela morava próximo a um bosque. Certo dia fui andar de bicicleta com a minha mãe e tentamos descobrir onde era a rua dela. Nós demoramos um pouco mas conseguimos descobrir. Era a rua Horeslau Savinski, descemos esta rua mas eu não sabia onde ficava sua casa.
Minha mãe me disse para convida-lá para sair. Era tempo de festa junina e eu estava criando coragem para fazer o convite. Percebi que ela estava me observando de longe e estava comentando alguma coisa para sua amiga e olhando para mim. Ela me olhava e depois para baixo e dava risada junto com a amiga.
Percebi que tinha alguma coisa errada, olhei para baixo e percebi que o zíper da minha calça estava aberto. Eu fiquei bastante envergonhado neste dia e não tive coragem de convidá-la para sair. A festa continuou e no palco o apresentador lia bilhetinhos e recadinhos que os alunos mandavam.
Daí eu decidi mandar um recado anônimo para ela. Fiquei escondido observando a reação dela quando o apresentador disse seu nome e que se tratava de um admirador secreto. Ela ficou toda curiosa mas minha vergonha me impedia de assumir que era eu.
NOVA ESTRATÉGIA
Bolei uma nova estratégia e tive a ideia de pedir que ela me ajudasse nas tarefas da escola na minha casa. Para minha surpresa ela aceitou o convite e me passou o endereço de sua casa. Fui com a minha mãe de carro busca-la. Me lembro que o trajeto não era longo mas parecia uma eternidade.
Minha ansiedade estava a mil por hora, meus batimentos cardíacos acelerados, no rádio tocava um hit da época “The Rhythm of the Night” uma música dance da Corona. Eu olhava pela janela cada detalhe do trajeto, as casas, as árvores e a cada momento que se aproximava da casa dela minha ansiedade aumentava.
Chegamos até a casa dela. Era uma casa de madeira bege com uma grande árvore na frente. Conhecemos a mãe dela que foi bastante simpática. Conversamos um pouco com ela, quando surge pela porta a Michele, ela estava arrumada com batom e um saltinho alto. E a primeira coisa que falei foi:
Semi: Oi Michele, como você está ”alta”.
Minha mãe me deu uma olhada e depois reservadamente me disse
Mãe: Em vez de você fazer um elogio e dizer que ela estava bonita, você foi falar uma besteira desta.
JOGANDO STREETS OF RAGE
Já na minha casa conversamos bastante sobre várias coisas e o que menos fizemos foi estudar ( claro que isso era um pretexto para ficar junto com ela). Fomos até o meu quarto e eu apresentei para ela o meu Mega Drive, coloquei o cartucho “Streets of Rage 1” que eu tinha ganho junto com o videogame. Nos sentamos em frente a tv Phillips de tubo e eu fui explicando sobre o jogo.
Ela escolheu a Blaze e eu escolhi o Axel, era visível que ela não tinha pratica nenhuma e talvez nunca tivesse jogado antes, fomos avançando nas fases e ela apertava o botão A ( que chamava a policia no jogo a todo momento. Mas eu nem me importava com o jogo, ficava olhando e admirando a beleza dela, mas não tinha coragem de me declarar.
DECEPÇÃO
Passaram-se outros dias e ela voltou mais umas 2 em vezes em casa. Eu sempre convidava com o pretexto de estudar as lições da escola. Uma das vezes ela levou a amiga da escola e nós três jogamos Mega Drive, desta vez ela ensinava a amiga a jogar o game. Comíamos bolo de chocolate que a minha mãe fazia.
Eu nunca tinha tido coragem de me declarar para ela mas no fundo ela sabia que eu gostava dela pois na escola comentavam sobre isso e o boato de que era eu que tinha mandado a mensagem para ela na festa junina tinha se espalhado. Eu e meus pais fomos até um clube onde estava tendo um churrasco e eu chamei a Michele para ir comigo. Neste clube ficamos a sós em alguns momentos e ela deu um jeito de me dar uma ”indireta” ela disse:
Michele: Bem você sabe que eu frequento sua casa, eu gosto de você mas entre nós é só amizade.
Eu respondi meio que com cara de bobo.
Semi: Sim é claro, por que você me diz isso ?
Michele: Por nada não.
Quando voltamos embora para casa minha mãe revelou para mim que a Michele tinha dito a ela que era só amizade o que tinha por mim. A minha mãe com a maior naturalidade respondeu que sim que ela sabia disso e que eu nunca tinha demonstrado o contrario e que eu gostava de outra pessoa.
Neste dia eu fiquei bastante chateado e comecei a perder um pouco do interesse nela. Talvez ela não visse maturidade em mim naquela época. Eu ainda tinha muita inocência de criança. E talvez por conta disso ela não tivesse despertado interesse ou ainda não tivesse dado o valor.
Passaram-se algum tempo e eu não estudava mais na mesma escola que ela e eu já não a procurava mais mas sempre nos encontrávamos em jogos escolares ou no centro da cidade. Ela começou a me procurar, ligava em casa as vezes e eu também ligava para ela sempre ficava um pouco nervoso sem saber o que falar.
Acabava falando de filmes de terror que eu gostava, em uma das vezes falei sobre um filme que tinha assistido recentemente, era o Cemitério Maldito 2 do Sthepen King. Algumas vezes nos encontramos no centro da cidade mas sempre tinha outros amigos em volta. Até que no começo de 1995 eu estava pedalando de bicicleta e tinha escapado a correia.
Eu fui colocar no lugar e acabei me sujando todo de graxa. Por coincidência estava perto da casa dela e quando estava subindo a rua eu a encontrei conversando com sua amiga e ela ficou surpresa ao me ver. Eu estava todo sujo de graxa, conversamos um pouco e eu convidei ela para ir no cinema comigo. Para a minha surpresa ela aceitou.
Meu pai me levou até a casa dela para busca-la pois eu tinha apenas 13 anos de idade e não dirigia. Para variar minha ansiedade estava ao extremo. Minha mãe como sempre deu os conselhos “Não se envergonhe da gente, se você a beijar saia de mão dada com ela do cinema”. Fomos assistir o filme “Highlander 3” peguei uma coca para mim e para ela. Eu falava pouco e bebia a coca. Ela olhava para mim como que esperando uma atitude e eu não me tocava. Até que ela perguntou :
Michele: Você tem vergonha ?
eu respondi
Semi: Vergonha do que ?
ela
Michele: Nada não , deixa pra lá.
Assistimos o filme até o fim e eu não tomei nenhuma atitude e ela também não. No dia seguinte conversando com meu amigo Jean Francisco contei sobre a pergunta dela ele disse:
Jean Francisco: Você bobeou, se ela te perguntou isso é porque ela queria que você tomasse uma atitude. Era só beijar !!!!
Fiquei decepcionado comigo mesmo mas naquela época eu tinha apenas 13 de idade, era totalmente inexperiente com as mulheres. Não conhecia jogos de sedução, tinha muita pureza e ingenuidade. Mas tive a minha chance e não aproveitei, quem sabe teríamos ficado apenas em um beijo ou até namorado. Mas a vida é construída por caminhos e decisões. Então era para ser assim.
Essas são as Memórias de um “Play Game”
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