Os jogos 2D de Zelda, que consolidaram a franquia como uma das grandes do mundo dos games, e trouxe games incríveis e divertidos para NES, Super Nintendo e Game Boy, são games influenciadores. Por muitos anos, vários games tentaram reproduzir seu gameplay, se inspirando em visão, história ou elementos.

Dito isso, pelo menos para mim, UNSIGHTED é o “melhor Zelda 2D” já lançado.

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UNSIGHTED conta a história de um mundo povoado por androides que adquiriram consciência quando uma substancia misteriosa caiu na terra. Agora, uma guerra começa entre os androides e humanos até que estes tomam controle da substancia provedora de consciência. Com isso todos os androides tem os seus dias contados até que esse recurso acabe e eles se tornem Unsighted, uma versão violenta e perigosa deles mesmos.

O jogo é bem similar aos já mencionados Zeldas 2D, sendo fácil de assimilar para quem jogou alguns dos games clássicos de Link: visão de cima, varias dungeons para explorar e diversas habilidades ganhas ao longo da aventura. Os maiores diferenciais são que enquanto o tempo do jogo passa, mais próximos estão todos os personagens de se tornarem “unsighted”. O game é delicioso de se jogar, principalmente quando percebemos que UNSIGHTED é um “jogo feito de jogos”.

Ok, quando eu digo dessa forma parece que estou dizendo que o jogo é uma espécie de coletânea, mas não é bem assim. UNSIGHTED transforma coisas que não seriam interessantes em coisas divertidas adicionando um elemento de jogo nelas.

Por exemplo: Carregar a munição de sua arma é demorado, mas se você apertar o botão de carregar novamente em um timing certo, a arma recarrega de forma muito mais veloz.

Outro exemplo: você pode se locomover apenas andando, mas se você deixar o botão de correr segurado e apertar o botão de pular repetidas vezes, você atravessa o mapa de forma muito mais rápida, entretanto isso diminui a sua energia e, se você perder toda ela, você se move lentamente por uns 2-3 segundos. Isso transforma o simples ato de ir do ponto A para o ponto B em um “minigame” de administrar energia. O UNSIGHTED é repleto desses minigames,  tanto dentro da ação quanto na hora de equipar upgrades.

O fato de sempre existir um jeito mais eficiente de fazer quase qualquer coisa no jogo faz com que o teto de habilidades de UNSIGHTED seja bem alto. Então, quem for se dedicar ao game consegue jogar de maneira totalmente diferente de quando você joga pela primeira vez.

Até porque, tal qual em Super Metroid, existem algumas mecânicas avançadas liberadas  desde o inicio do jogo. Não quero estragar a surpresa de quem for jogar, mas ao longo do jogo você descobrirá como pular mais distante, subir mais alto e até mesmo como encontrar atalhos na maioria dos puzzles.

Quando você descobre algumas dessas mecânicas avançadas a sensação é a de que você está quebrando o jogo, mas observando os lugares percebe-se rapidamente que tudo o que você está fazendo foi meticulosamente calculado. Mas tudo bem se você não descobrir essas mecânicas por conta própria, algumas delas são ensinadas em determinadas partes do jogo.

A pixel art do jogo é de cair o queixo, principalmente nos chefes em que é possível enxerga-los em toda sua gloria. As animações da protagonista passam a fisicalidade das ações perfeitamente e alguns cenários são tão bonitos que fazem com que você queira estar naqueles lugares pessoalmente, isto é, se eles não estivessem cobertos de robôs assassinos.

Falando em robôs assassinos, derrota-los é bem divertido, mas requer um pouco de aprendizado. UNSIGHTED, assim como a serie Souls, trás para as ações da personagem uma barra de estamina que diminui quando você ataca usando uma arma corpo a corpo ou quando você usa o botão de desviar.

A existência dessa mecânica faz com que seja desvantajoso chegar em um combate apertando todos os botões ao mesmo tempo. É preciso calcular quando parar de atacar para não sofrer a consequência da perda de estamina.

Mas o combate não é baseado inteiramente nesse sistema. Atirar com sua pistola ou realizar um parry (uma defesa que precisa ser realizada no momento em que você for receber dano) não gastam energia. Isso faz com que você sempre tenha algo para pensar durante o combate pois, se um recurso está chegando ao fim, você possui outro para compensar. Entretanto essa não é a única forma de combate no jogo.

É impressionante como UNSIGHTED entrega ao jogador as ferramentas para que ele lute como quiser. É possível equipar qualquer combinação de armas e upgrades que você desejar. Quer lutar com duas pistolas transformando o jogo em uma espécie de bullet hell? Você pode. Quer carregar uma espada e um machado fazendo uma personagem que tem um ataque fraco e um ataque forte? Você pode. Quer ficar apertando todos os botões ao mesmo tempo igual eu disse que não daria certo alguns parágrafos atrás? Você pode.

Dito isso, essas possibilidades se abrem conforme você vai explorando o mapa e encontrando novas armas e chips equipáveis, então, apesar dessa liberdade existir em UNSIGHTED, ela demora um pouco para ser revelada ao jogador.

É na exploração em que a estrela de UNSIGHTED brilha mais forte. Logo após a primeira área do jogo, uma NPC mostra no mapa os 5 locais onde estão os fragmentos de meteoro que você precisa coletar. Cada um dos 5 lugares possui um numero indicando a melhor ordem para obter os itens, mas a NPC logo diz que, se você quiser, você consegue ignorar esses números e explorar do seu próprio jeito.

Qualquer lugar pode ser acessado se você explorar o mapa, mas nem todo caminho é obvio. Existem lugares em que é necessário certos itens ou conhecimentos de habilidades avançadas para progredir, mas, explorando bem o mapa e as lojas, tudo o que você quer fazer no jogo pode ser feito na ordem que você desejar.

Entretanto, ter que entrar no menu para trocar as armas necessárias de exploração para as armas que você gosta de usar em combate o tempo todo acaba ficando chatinho com o tempo.

Andando com atenção é possível encontrar varias armas, chips, segredos e cachorros companheiros. Andar pelo mundo fica cada vez mais divertido conforme você vai ganhando novas habilidades e armas. Isso faz com que o jogo fique ainda mais incrível ao jogar ele pela segunda vez no modo normal ou no new game+, pois o seu conhecimento do mundo é recompensado e planejar sua rota se torna mais uma das maneiras que UNSIGHTED te prende ao jogo.

De todos os itens o jogo que você consegue encontrar em sua exploração é o Pó de Meteoro que é o mais importante. É ele que permite que os androides do mundo possam manter a sua consciência por mais tempo. Entretanto, apesar da importância dessa mecânica para o jogo, ela não funcionou muito bem para mim.

Todos os personagens de UNSIGHTED, Desde a mercadora de engrenagem até a protagonista do jogo, possuem um tempo limite de vida que diminui a cada minuto de jogo. Isso cria um senso de urgência no jogador que ajuda a alguns jogadores a se apegar aquele mundo e a aquelas personagens e, caso muitos androides tenham morrido a primeira vez que você jogou, incentivam o jogador a percorrer a história novamente em busca de zerar o jogo em menos tempo. Entretanto, pelo que eu senti e conversei com outras pessoas, esse sistema trouxe para cada pessoa um sentimento diferente:

Para algumas pessoas o timer foi muito bem sucedido e a luta para manter todos vivos trouxe emoções fortes e transformaram UNSIGHTED em um jogo de grandes sentimentos.

Outras pessoas ficaram bastante frustradas, fazendo toda dificuldade parecer irrecuperável e deixando-as muito ansiosas, criando assim uma experiência desagradável. Para esse tipo de pessoa o jogo traz o modo de jogo “exploradora”, em que mecânica de limite de tempo é desligada.

E alguns, eu incluso, perderam o interesse pela história do jogo.

Quando eu não consegui salvar a primeira pessoa que teve o seu tempo de vida esgotado, eu parei de ver os NPCs do jogo como personagens e passei a ver eles como funções. Deixando todos os personagens morrerem, com exceção de alguns cujo beneficio me interessava.

Embora a história não tenha me pegado, os modos de jogo bônus funcionaram comigo perfeitamente. Além da campanha normal e do new game+ o jogo possui um modo boss rush, em que você enfrenta todos os chefes do jogo e um modo dungeon onde você é colocado em fases extras e precisa chegar ao final.

Estes dois modos possui um elemento de roguelike. Você começa fraco, mas a cada desafio que você supera o jogo lhe oferece algum novo equipamento, forçando você a experimentar maneiras diferentes de lutar.

Estes modos não apresentam muito em termos de exploração, mas fazem com que um jogo que eu adorei possa ser jogado infinitas vezes, o que, na minha opinião, É um grande acerto.

E falando em acertos, qualquer modo de jogo (incluindo a campanha principal) pode ser jogado de forma cooperativa local, possibilitando que todas as maravilhas do jogo possam ser compartilhadas por dois jogadores simultaneamente.

UNSIGHTED é fantástico. Ele prende sua atenção do começo ao fim e a maneira que você interage com o mundo fica cada vez mais divertida quando você vai aprendendo novas habilidades.  É verdade que o sistema de timer tenha feito eu desistir da história, mas é inegável que, para mim, UNSIGHTED é o jogo do ano. Se você gosta de jogos de Zelda 2D você precisa jogar UNSIGHTED e ver a melhor coisa que já foi feita nesse gênero.

UNSIGHTED está disponível para Steam, Playstation 4, Nintendo Switch e Xbox One (também disponível para assinantes Xbox Game Pass).