No ano de 1993 eu tive uma experiência traumatizante. Eu estudava no colégio São José e fazia a 5º série,nesta época os valentões da escola aplicavam o mais temível Bullying. Era um colégio novo para mim pois eu havia mudado de escola.

Tudo lá era novo. Naquele momento eu estava completando meus 11 anos de idade e possuía a ingenuidade de criança e não imaginava o que estava por vir. Na minha sala de aula tinha vários alunos mais velhos do que eu que haviam repetido de ano.

PROPAGANDA

Tinha alunos de 14 e até 15 anos e por isso havia vários “valentões” que batiam nos menores e na maior parte das vezes ficavam impunes. Por algum motivo os valentões da sala invocaram comigo. O motivo? Não sei.

Talvez pela minha pureza e falta de malícia. O primeiro garoto que tive uma discussão foi Mauro, ele era um rapaz gordinho que dava socos no braço e empurrava com seu corpo gordo no vão entre a parede e o quadro negro. Outro rapaz que vivia implicando comigo e dando socos era Pedro e tinha o Wesley que era o mais velho da turma. Todo dia eu apanhava de alguém no colégio seja por algo que eu falava  ou simplesmente por existir.

Eu acabei fazendo amizade com Gabriel que também era perseguido e apanhava dos valentões. Ele morava perto de casa e também tinha um Mega Drive. Nós sempre jogávamos juntos em casa e também trocávamos cartuchos.

As perseguições dos valentões eram frequentes na escola mas o que todos temiam era o famoso “Chá de cueca”. Eu nunca tinha ouvido falar. Não sabia o que seria isso. Os garotos me falaram que era o ápice da tortura que os valentões aplicavam naqueles garotos que teriam cometido alguma infração mais grave e que mereciam este castigo.

Certo dia eu, Gabriel e mais alguns colegas tivemos uma discussão com os valentões da sala e daí ficamos marcados. Eles disseram que no recreio iriam nos pegar e que levaríamos o “chá de cueca”. Nós corremos e tentamos nos esconder mas os valentões mandaram outros garotos nos procurar. Estávamos sem saída. Os valentões nos acharam e nos levaram para o fim do corredor.

O primeiro garoto que levou o chá de cueca foi o Fabinho, ele era baixinho e magricelo. O valentão puxou sua cueca por cima da calça e o levantou a um metro do chão. O rapaz ficou pendurado no ar apenas pela cueca. O valentão colocou o menino no chão que saiu meio atordoado e andando torto com a mão no quadril. A segunda vítima foi meu amigo Gabriel, o valentão tentou levanta-lo pela cueca mas como ele era gordinho juntou mais dois valentões e o ergueram para aplicar o chá de cueca. Como ele era pesado a cueca rasgou e ele caiu sentado no chão.

Os valentões se divertiram com a situação do garoto. Eu aproveitei a distração deles e saí correndo o mais rápido que eu pude. Eles vieram atrás eu corria e corria, estava quase sem fôlego quando tocou o alarme do recreio e todos os alunos começaram a voltar para suas salas. Os valentões desistiram e prometeram que iriam me pegar.

Eu contei para os meus pais o que estava acontecendo sobre as ameaças e sobre as brigas. Minha mãe foi até a diretoria para cobrar uma punição. Por um tempo os valentões não me pertubaram mas as ameaças continuavam.

Algumas vezes um primo meu de 16 anos vinha junto com meus pais para me buscar e para colocar medo neles mas não adiantava, eles não mexiam comigo por um tempo mas depois voltavam a provocar e a ameaçar. Às vezes me davam socos no braço ou passavam correndo e me empurravam no chão, às vezes chutavam mas eu não conseguia enfrentar, não conseguia reagir.

Teve um dia que um dos valentões se aproximou de mim e me ofereceu uma Coca-cola no saquinho para beber. Eu achei que ele queria fazer as pazes e queria um gesto de aproximação. Quando eu fui beber veio o Fabinho correndo e me alertou:  

Fabinho: Não beba! Eles colocaram uma barata dentro do saquinho.

Quando eu olhei melhor vi que tinha algo boiando. Os valentões ficaram com mais raiva ainda de nós e continuaram nos perseguindo. Minha mãe um dia me falou que eu deveria enfrentá-los mesmo que apanhasse, só assim eu conseguiria parar com isso e fazer com que me respeitassem.

O meu refúgio se tornou o videogame eu chegava todos os dias em casa e ia direto para o meu Mega Drive jogar “Pit Fighter” eu me imaginava como o “Ty” e como os outros personagens do jogo dando porrada nos adversários e vencendo as brigas. Eu imaginava que os personagens do jogo eram os valentões.

Eu apertava os botões com força, xingava e descontava toda a minha raiva jogando o “Pit Fighter” e derrotando os inimigos no jogo. Por algum momento eu me sentia vingado mas quando voltava à vida real eles continuavam a me importunar.

Desta vez jogaram o meu amigo Gabriel contra mim, eles nos fizeram discutir e marcar uma briga no “campão” (local que geralmente tinha estas brigas) e se um de nós desistisse ficaríamos com a fama de covarde. O sino do colégio tinha tocado e era a hora de irmos embora. Todos os garotos da sala foram no campão para assistir a briga entre eu e meu melhor amigo.

Continua no próximo texto…