Há 20 anos, um peculiar jogo havia sido lançado no PS1 com intuito de renovar o gênero Survival Horror, representado no console, até então, principalmente pelos dois primeiros games da franquia Resident Evil.
[intense_alert]ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS[/intense_alert]
Com um ar mais sombrio e perturbador do que os demais jogos do gênero, Silent Hill estabeleceu um marco ao tratar de assuntos delicados como cultos demoníacos, drogas e abuso infantil, além de estabelecer uma atmosfera pesada através do uso de ambientes escuros e de uma sonoplastia assustadora.
Classificado também como um jogo de Psychological Horror, Silent Hill foi desenvolvido pela Konami e lançado em 31 de janeiro de 1999 nos Estados Unidos, e em março do mesmo ano no Japão. Sendo de comum conhecimento entre os fãs e a mídia especializada, um dos pilares do game que o tornou um marco do gênero foi a trilha sonora bem elaborada, capaz de nos provocar sentimentos de solidão, angústia e medo.
Como um belo exemplo, temos a clássica cena de abertura do game com tema composto por Akira Yamaoka, que introduz ao jogador a premissa da história com o protagonista Harry Mason em busca de sua filha Cheryl, desaparecida após sofrerem um acidente de carro.
A história de Silent Hill é um tanto confusa e com alguns detalhes contados somente a partir de documentos encontrados ao longo do game. Ela se desenvolve ao redor de Alessa Gillespie, filha de Dahlia Gillespie. Sete anos antes dos eventos do jogo, membros da comunidade de Silent Hill formaram o culto religioso “The Order”, liderado por Dahlia, com a intenção de trazerem ao mundo o seu deus, Samael, mediante sacrifícios e, com isso, terem acesso ao Paraíso.
Para os adeptos do culto, a conversão dos habitantes de Silent Hill deveria ser feita a todo custo. Para isso, foram empregados meios bastante perversos como lavagem cerebral, sequestro, tortura e até tráfico de uma droga chamada PTV, cujo uso era comum entre os praticantes do culto para, supostamente, comunicarem-se com entidades espirituais.
Chegou um momento em que Dahlia, desejando incansavelmente o nascimento de Samael, tentou sacrificar sua própria filha em um ritual de invocação, queimando-a viva. Alessa, no entanto, não era uma simples garota e detinha capacidades espirituais até então desconhecidas pela mãe, sendo capaz de dividir sua própria alma para impedir a conclusão do ritual e o nascimento da divindade.
Como consequência, Alessa gerou um outro ser, que era a representação de sua personalidade infantil e pura (esses acontecimentos são mais bem detalhados em Silent Hill Origins, para PSP e PS2). Esse outro ser nada mais era do que Cheryl, encontrada por Harry Mason e sua esposa, Jodie Mason, nas proximidades de uma estrada, anos antes dos eventos do jogo.
Apesar de ter separado sua alma, Alessa foi mantida em coma no porão do hospital de Silent Hill, Alchemilla Hospital, permanecendo sob os cuidados do médico Michael Kaufmann e da enfermeira Lisa Garland, adeptos do culto religioso. Lisa era a única enfermeira do hospital autorizada a entrar no porão.
O trabalho da enfermeira era manter Alessa viva até que a metade de sua alma, representada por Cheryl, fosse encontrada e o ritual pudesse ser continuado. Devido aos processos iniciais do ritual, Alessa já possuía em seu útero um embrião que daria vida ao deus Samael, servindo como “incubadora” até que Cheryl retornasse.
Mesmo em coma, a projeção espiritual da parte da alma remanescente de Alessa foi capaz de espalhar pela cidade as Marcas de Samael, que se completadas tornariam a cidade em uma representação completa de seus pesadelos e culminaria na morte de seu corpo físico, livrando-se de anos de sofrimento.
Este é o motivo para o surgimento das criaturas que rondam Silent Hill, são todos representação dos medos e do terror sofrido por Alessa. Durante o jogo, Dahlia ainda manipula Harry para que, ao derrotar os diversos chefes do game, possa impedir que Alessa complete as Marcas de Samael.
No decorrer do jogo, recebemos a ajuda e conselhos de Cybil Bennett, policial de Brahms, uma cidade próxima. Cybil foi para Silent Hill investigar a falta de comunicação com o departamento de polícia local, mas acaba presa na cidade após um acidente com sua moto, provocado pela projeção astral de Alessa.
Esta, inclusive, foi também a causa para o acidente de Harry, demonstrado na cena de abertura do jogo. Cybil se dispõe a ajudar Harry a encontrar sua filha e é uma das peças fundamentais para os diferentes finais do jogo.
Por fim, Harry é induzido a ir ao local onde Dahlia mantinha o corpo de Alessa, agora toda enfaixada e sobre uma cadeira de rodas, ao passo que Cheryl é atraída e se une à outra metade da alma de Alessa. O espírito de Alessa, agora completo, retorna ao seu corpo físico, dando vida a uma nova entidade, a Incubator.
Nesse momento, Michael Kaufmann, após se arrepender de ter se unido ao culto, lança sobre a Incubator um líquido chamado Aglaophotis, obtido após o jogador concluir uma side quest envolvendo Kaufmann. O líquido possui propriedades teoricamente capazes de impedir o nascimento de Samael, que havia sido implantado no útero de Alessa.
O ritual, porém, já tinha sido completado e o deus Samael, também nomeado no jogo por Incubus, surge de dentro da entidade Incubator.
Ao final, Harry derrota o demônio Incubus. A entidade Incubator reaparece, cedendo a Harry um bebê que, por incrível que pareça, é a reencarnação de Alessa e Cheryl combinadas em um ser. Tal bebê nada mais será do que Heather Mason, a protagonista de Silent Hill 3, lançado para PS2. Vale lembrar que Silent Hill 2 não tem uma conexão direta com o primeiro jogo lançado da franquia.
Se a história em si exige tempo para entender, a ambientação sombria – característica de pesadelos – é demonstrada com clareza. Os monstros que na cidade habitam representam os medos de Alessa, como os cachorros esfolados e furiosos, aves desfiguradas que lembram pterossauros, as baratas gigantes e os seres humanoides na escola, as enfermeiras possuídas e, inclusive, os espíritos de pequenos seres que não podem nos machucar mas, claro, podem nos assustar (bastante!).
Também é possível notar em diferentes ambientes corpos pendurados e enfaixados, e macas e cadeiras de rodas que representam a agonia, a dor e o sofrimento de Alessa.
Toda Silent Hill possui uma densa neblina, que aumenta ainda mais o medo ao jogar. Mas quando a cidade se transforma no Otherworld é quando o pesadelo realmente se torna realidade.
Com grades por todos os lados, sangue sobre as paredes e uma escuridão que toma conta de tudo, esta versão mais sombria da cidade consegue “arrancar” muitos calafrios e fazer suar nossas mãos ao jogar. E para completar, ainda temos uma trilha sonora incrível que amplifica ainda mais as sensações de medo, pavor, horror, melancolia e tristeza que sentimos ao longo do jogo.
Mesmo após 20 anos e possuindo gráficos e jogabilidade datados, Silent Hill continua assustador e envolvente, podendo ser considerado um dos melhores jogos de Survival Horror de todos os tempos. Com toda certeza, vale a pena tirar a poeira de seu PS1, abrir a bandeja, colocar o CD de Silent Hill e curtir o terror e a diversão que nos faz sentir. E lembre-se, aumente o som e apague a luz se for corajoso!