Quando o assunto é futebol virtual, todos pensam em Pro Evolution Soccer e FIFA. As duas franquias disputam a preferência dos apaixonados pelo esporte, mas nem sempre foi assim.

Analisando a história, vamos tentar desvendar o motivo da escassez de jogos de futebol na indústria de videogames e imaginar quais desenvolvedoras podem mudar o cenário atual.

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Até a quinta geração de videogames (PlayStation, Nintendo 64, Sega Saturn e PC), era possível encontrar mais do que apenas dois títulos de jogos de futebol, e antes disso, nas eras 8 e 16 bits, as principais desenvolvedoras de jogos tinham títulos de futebol disponíveis em diferentes plataformas.

Hoje o cenário é completamente diferente, e embora tenhamos alguns outros títulos para dispositivos móveis, e jogos do tipo manager, nos quais o foco é gerenciamento de clubes/carreiras, Eletronic Arts e Konami dominam o mercado tendo apenas uma à outra como concorrente. Para tentar entender como chegamos a esse nível, vamos voltar às origens dos jogos de futebol para videogames.

DÉCADA DE 70 | O PRIMEIRO DE SEU NOME

Vamos voltar à década de 70, mais exatamente em 1973, quando a desenvolvedora japonesa Taito lançou aquele que seria o primeiro game de futebol da história e o batizou simplesmente de Soccer.

O jogo foi lançado para Arcades e era simplório, não somente no nome como também nos gráficos e jogabilidade, o que não poderia ser diferente, afinal estamos falando da era jurássica dos videogames, na qual quase tudo se resumia em traços, pontos e score.

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Depois, a Taito, Philco e Mattel lançaram títulos do esporte bretão, para Telejogo e Intellivision respectivamente, mas sempre simples e lembrando mais Pinball ou Totó do que futebol.

Naturalmente, a partir da década de 80, com a evolução dos hardwares e as desenvolvedoras cada vez mais preocupadas com a qualidade final dos seus produtos, os títulos começavam a surgir com maior foco em gráficos e jogabilidade. No início da década, os gráficos ainda eram bem limitados, como em Pelé’s Soccer do Atari 2600, contudo algo chama atenção no referido game, o Pelé.

Além de dar nome ao jogo, o KING ON THE SOUTH (o astro brasileiro já era considerado o rei do futebol) estrelava uma propaganda comercial mundial para divulgar uma série de jogos de esportes do console. Era a primeira vez que um jogador profissional famoso emprestava seu nome e imagem para alavancar um game, veremos isso acontecer com frequência um pouco mais para frente.

ANOS 90, INÍCIO DA JORNADA PELOS SETE REINOS | CONTINENTES

A segunda metade da década de 80, foi marcada pela consolidação da Nintendo e da Sega como protagonistas da indústria de games. As desenvolvedoras, cada vez mais ousadas e criativas, se esforçavam para alimentar os sistemas das gigantes japonesas, cada vez mais presentes nos lares ao redor do mundo.

Videogame deixava de ser apenas um brinquedo para se tornar uma fonte de entretenimento para toda família, sendo assim os programadores sabiam que precisavam de mais do que personagens fofinhos pois havia um nicho não infantil a ser explorado.

Os games de futebol começavam a surgir como grandes lançamentos, as principais desenvolvedoras apostavam no esporte bretão como um tiro certeiro para agradar os fãs e engordar o seu faturamento. Capcom, Jaleco, Hudson Soft e até mesmo a Square (Hoje Square Enix) apostaram em futebol. Para satisfazer esse novo público, era preciso focar nos detalhes.

Os bonecos monocromáticos deram lugar a sprites com pernas, uniformes e cor de cabelo e pele. Os menus simples foram substituídos por interfaces detalhadas com imagens de estádios e jogadores. Alguns títulos traziam referências à grandes astros do futebol e copas do mundo como o World Cup Italia’90 de 1989, lançado para Master System e Mega Drive, inspirado na copa do mundo de 1990.

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UM SONHO DE PRIMAVERA | O INÍCIO DE UMA ERA

Em 1993, a Eletronic Arts, já atuante no mercado com títulos consagrados de esportes como a franquia Madden Football (de Futebol Americano), lançaria o FIFA International Soccer. Visão Isométrica, estádio vibrando com cânticos da torcida e reações à chutes a gol, ataques e defesas, total controle sobre táticas e estratégias.

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A EA investiu pesado para tornar a experiência mais imersiva. Dois anos depois, a Konami, que já havia se aventurado, sem muito sucesso, com Konami Soccer, respondeu à altura e entrou em campo de vez com International Superstar Soccer.

O título usa bem o poder do SNES e traz mecânicas e físicas perfeitas para um 16 bits. Como se não bastasse, no mesmo ano sai a versão Deluxe do jogo, com ligeira melhoria gráfica, adição de narração mais completa, novos times e opções táticas, novos modos de jogo e aprimoramento na física.

A versão Deluxe também foi lançada para Mega Drive e PlayStation, em 1996 e 1997, respectivamente. Enquanto isso, a Eletronic Arts faz do seu game de futebol uma franquia regular, sendo lançada a cada ano, entre os meses de agosto e setembro, intervalo entre temporadas das ligas europeias e véspera/inicio da primavera no hemisfério sul.

Além de seguir o calendário regular europeu, passou a ter jogadores com nomes reais e atualizados de acordo com a temporada do ano de lançamento, além de ligas de diversos países e os principais clubes de futebol do mundo. Isso foi um fator preponderante para concorrer com o realista jogo da concorrência.

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A ESCALADA DOS JOGOS LICENCIADOS

Ainda na primeira metade da década de 90, era possível encontrar outros títulos de futebol com ligas e jogadores reais. A J. League (Liga de futebol japonesa) fez um grande investimento para popularizar o futebol no país, além de investir pesado em propaganda, reforma de estádios e ajudar os clubes a contratar estrelas internacionais como o brasileiro Zico (um dos melhores do mundo à época), investiu também em mídia de entretenimento.

O anime Captain Tsubasa (Super Campeões, no Brasil), foi patrocinado pela J.League e Associação Japonesa de Futebol. Além do anime (que depois virou game), programas de TV e seriados também eram totalmente dedicados à liga japonesa.

Em 1992, foi lançado o primeiro jogo totalmente licenciado da J. League, o J. League Fighting Soccer (Game Boy, 1992). A partir de então vários jogos foram lançados totalmente licenciados para todas as plataformas dos anos 90, a grande maioria exclusivos para o mercado japonês.

Em 1995, a Human Entertainment, criadora da franquia Super Formation Soccer (Super Soccer, no ocidente) lançou Super Formation Soccer: della serie A, completamente licenciado da liga italiana de futebol. O game, infelizmente saiu apenas no japão, mas não era difícil encontrar cópias no mercado paralelo brasileiro, devido o tamanho sucesso, por trazer jogadores e clubes famosos do mundo todo.

Na época, o campeonato Italiano era transmitido em TV aberta no Brasil, o que explica o sucesso dos times da Velha Bota por aqui. Apesar disso, não foi suficiente para fazer páreo aos já consagrados jogos da Konami e Eletronic Arts.

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A série FIFA seguia incluindo cada vez mais ligas e elementos do universo dos clubes de futebol para tornar seu game mais real, enquanto a franquia da Konami, que a partir de 2000 passou a se chamar Pro Evolution Soccer no ocidente e Winning Elleven no japão, investia em jogabilidade e mecânica.

Foi também em 2000 que, a Eletronic Arts lançou seu primeiro jogo com times completamente licenciados (uniformes, escudos e patrocinadores estampados nos uniformes). Além das licenças, o jogo tinha capas diferentes com jogadores internacionais, que mudavam de acordo o país que era comercializado.

A versão brasileira era totalmente dublada em português do Brasil e trazia a já presente em todas as versões anteriores, Liga Brasileira (como é chamado o Brasileirão no jogo).

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Uma outra forte característica do FIFA é a trilha sonora. Desde a versão 98, a franquia aposta em bandas e artistas de diversos países para integrar a sound track. Artistas brasileiros sempre estão presentes. Seu Jorge, Karol com K, Marcelo D2, Russo Passapusso e Emicida já apareceram como representantes brasileiros.

Mesmo com todo o investimento da EA em licenças e royalties, a franquia japonesa ganhou preferência dos amantes do futebol. Os gráficos eram bem mais realistas que os da rival e a jogabilidade mais fluida.

No Brasil, Winning Elleven (sim, a versão japonesa), virou uma febre. O principal fator (além dos gráficos), foram os patches, que iniciados ainda na era 16 bits, com Super Campeonato Brasileiro e Ronaldinho Soccer, atualizavam os elencos dos times, editavam uniformes e até cantos de torcidas.

Um dos patchs mais conhecidos e que perdura até hoje é o famigerado Bomba Patch. Prometendo ser 100% atualizado, o DLC não oficial Made in Brasil, estava sempre atento ao mercado de transferências de futebol e aperfeiçoava aquilo que a Konami não conseguia suprir, as licenças.

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Por sua vez, a canadense EA, seguia tentando aprimorar sua engine para tornar sua franquia mais real e assim tomar, de uma vez por todas, o pódio da rival japonesa.

O primeiro lugar na preferência dos gamers era uma obsessão para a Eletronic Arts, a desenvolvedora estava disposta a investir no que fosse necessário para desbancar a rival. Com cada vez mais ligas licenciadas, contratos de exclusividade de uso de imagens de jogadores para promoção do game.

OS DESPOJOS DA GUERRA | O DESAPARECIMENTO DE OUTROS TÍTULOS

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Paralelo a disputa pelo primeiro lugar entre Konami e Eletronic Arts, pouco a pouco outras franquias foram parando de ser lançadas. Estava ficando cada vez mais caro desenvolver um jogo de futebol capaz de bater de frente com as duas desenvolvedoras citadas e o que levou a isso foi a acirrada disputa pela preferência dos fãs.

Segue abaixo os três principais fatores que levaram outras desenvolvedoras a desistirem do ramo futebolístico.

• Engine: Os jogos de futebol estavam cada vez mais populares, o novo nicho criado com essa demanda, estava ávido por realismo. Para suprir isso, as desenvolvedoras tinham que investir em engines mais complexas e gráficos cada vez mais bonitos, com movimentos próximos da realidade e tecnologias de física levando em consideração atributos dos jogadores, tipo de gramado, condições climáticas e etc.

• Marketing / Promoção: A Atari lançou moda ao usar a imagem de Pelé para promover o seu jogo, contudo o futebol do mundo real começou a beber da fonte do merchandising e viu neste segmento um complemento de receita para atletas, clubes, ligas e marcas. Sendo assim, se tornou caro contratar um astro do futebol para campanha publicitária ou pagar direitos de imagem para estampar capas de jogos.

• Licenças: Até os anos 90, a maioria dos jogos de futebol eram compostos por seleções, o motivo é óbvio: não é necessário pagar para usar bandeiras e nomes de países em jogos. Com a popularização dos games, as desenvolvedoras se viram obrigadas a investir em realismo. Os amantes de futebol querem jogar com clubes e jogadores famosos. Fomos felizes marcando milhares (sim, milhares) de gols com Allejo, Gomes, Capitale, Coliuto, Janco Tiano e companhia, mas isso ficou em um passado no qual não nos importávamos com realismo. Além do alto preço para licenciar uma liga para um jogo de vídeo game, algumas vendem pacotes de exclusividade, esse é o motivo de ter a Premier League (Principal divisão da Inglaterra) no FIFA enquanto no PES a maioria dos times ingleses são genéricos. Bem como, temos a Juventus, time de Cristiano Ronaldo toda licenciada no futebol da Konami e não temos na franquia da Eletronic Arts em 2020.

UMA NOVA TEMPORADA SE APROXIMA

Às vésperas dos lançamentos das versões 2021, de FIFA e PES, ao menos uma novidade causou certa polêmica entre os fãs das franquias. Recentemente, a Konami revelou que o eFootbal PES 21 não será um novo jogo e sim uma atualização, ou seja quase uma super DLC.

Até ai, parece algo bem aceitável e por um bom motivo: é fim de geração, da versão 2019 para a 2020 houve uma grande evolução na jogabilidade e física do game, de modo que era quase certeza a manutenção da engine para o próximo PES. Sendo assim, como as mudanças seriam apenas em termos de elencos dos times, mudança nos atributos dos jogadores, escalações e formação tática e alguma mudança na interface do jogo, nada que uma DLC não dê conta.

Entretanto, os jogadores se queixam de um grande detalhe, o preço. A atualização do título previsto para ser lançado em 15/09, está em pré-venda sob os valores de R$99 para PC e R$ 179 para PlayStation 4 e Xbox One. Quem não tiver a versão 2020, pagará 20% mais caro.

O FIFA 21, previsto para ser lançado em outubro, vem repleto de novidades em todos os modos do jogo. As que se destacam estão no FUT (FIFA Ultimate Team) com adição de coop, e no modo carreira, com adaptações que transformam a opção de simular partidas em um Manager.

Com tanta novidade, ainda assim também tem polêmica envolvendo o representante da Eletronic Arts. E advinha, preço! Com a versão básica custando R$ 298 e a versão Ultimate saindo por R$498,90. Isso tornou esse FIFA o mais caro da história.

O TRONO – O FUTURO DO FUTEBOL VIRTUAL

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Não há sequer algum sinal de que uma outra desenvolvedora se aventure no mundo futebolístico dos videogames.

O cenário competitivo dos e-Sports é um terreno cada vez mais fértil. Clubes de futebol profissional começam a dar devida atenção, mas a impressão que temos é que apenas duas desenvolvedoras estão dispostas a explorar esse promissor mercado.

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Com seus prós e contras, ambas as séries arrastão uma legião de fãs, e seguem inovando. Cada uma no seu ponto forte. O eFootball PES 2020 está mais próximo do realismo em questões de gráfico e jogabilidade. A atualização para versão 2021 promete trazer novidades em licenças e modos de jogo.

Já o FIFA 20 leva vantagem nos modos Ultimate Team e Volta Football. Além disso, o game da EA já tem uma base de licenças bem consolidada e modo online mais coeso.O FIFA 21 traz mudanças relevantes no modo Carreira e até mudou a narração na versão brasileira, saindo Tiago Leifert e para o seu lugar o narrador do SporTV Gustavo Villani.

Quem deve sentar no no trono na próxima temporada? The Spring is comming!