Quando eu tinha 11 anos a grana era MUITO curta, mas eu tinha a sorte de que meu pai trabalhava como camelô e ia toda semana para o Paraguai. Isso era sorte? Era sim, pois quaisquer 5 reais naquela época davam pra comprar um cartucho pirata de Nintendinho no Paraguai. Ainda me lembro de um mês em que juntei uma grana, fui com meu pai viajar pra lá e fiz a festa!
COMPREI UM LOTE
O ano era 1994, não lembro o dia nem o mês, e em uma das viagens que meu pai fazia toda semana fui com ele pra poder “investir” o meu dinheiro em cartuchos de Nintendinho. Eu já tinha uma caixa de sapatos cheia deles, o que pode não parecer muito, mas pra mim na época era o máximo. O final de semana chegou, lá fomos nós para Foz do Iguaçu, atravessamos a Ponte da Amizade e meu pai começou a fazer as compras dele, lista de pedidos dos seus clientes e tudo o mais.
Eu só pensava nos meus jogos, e em menos de 3 horas meu pai terminou o que precisava fazer e era a minha vez de comprar. Sempre que entrava numa daquelas lojas com milhares de cartuchos coloridos empilhados eu “pirava”, e daquela vez não foi diferente, porém eu tinha dinheiro, não era muito, mas era meu. Já estava com a lista na cabeça do que eu queria comprar e as que eu levei foram: World Heroes, Fatal Fury, Mortal Kombat e Cavaleiros do Zodíaco. Finalmente gastei meus 20 reais que demorei tanto para juntar e estava feliz da vida.
A NOVIDADE POR UMA SEMANA
Já em casa, passei a semana toda voltando da escola rápido que nem uma bala pra poder jogar meus cartuchos novos. Era muita diversão, só jogos de luta, tirando o dos Cavaleiros. A maioria terminei durante a semana mesmo, porém o cartucho dos Cavaleiros do Zodíaco era algo mais elaborado, pedia tempo, dedicação, e eu estava pronto pra isso. Moleque de tudo, o que eu tinha pra fazer depois de estudar era apenas jogar. Desafio aceito!
No primeiro final de semana com os jogos, meu primo Emerson foi me visitar. Quando ele chegou não o esperei nem entrar em casa direito e, ao abrir o portão, já falei que eu tinha comprado o jogo dos Cavaleiros do Zodíaco. Lembro como se fosse hoje ele me perguntando “Cabeção, tem certeza? Pois eu acho que você comprou um jogo chamado Dragon Ball”.
Eu sabia muito bem o que era Dragon Ball e também que o jogo que eu tinha comprado era Cavaleiros do Zodíaco, no entanto era tão fácil naquela época alguém confundir os dois que meu primo estava certo em ter ficado desconfiado, mas a dúvida acabou rápido depois que mostrei o cartucho pra ele. Preciso dizer que ele “pirou” também?
DOIS GRANDES PROBLEMAS
Como a ida do meu primo na minha casa era pra me buscar e ir passar as férias na casa dele, lá fomos nós, mala pronta, cartuchos na mochila e tchau. Passamos muito tempo jogando todos os cartuchos, junto com outros dois amigos nossos que moravam próximo ao meu primo, o Osvaldo e o Clayton. Porém, mais uma vez sobrou o CDZ pra terminar. A gente ia passando aos poucos, aprendendo as manhas e entendendo o jogo.
Nossa tática era usar o cavaleiro em cada tela de acordo com o anime pra passar as fases, por exemplo, contra o Máscara da Morte íamos com o Shiryu na tela. Funcionou bem a tática, porque cada personagem tinha vantagem com o mestre da tela se escolhido conforme o anime.
A gente tinha dois problemas com o CDZ de Nintendinho. O primeiro não conseguimos resolver e acabamos nos adaptamos a ele, que era o lance dos PASSWORDS. Caramba que difícil era anotar aquilo, cerca de 20/30 letras em JAPONÊS para anotar, era MUITO FÁCIL anotar algo errado e não funcionar quando a gente fosse usar.
Hoje em dia seria simples, era só tirar uma foto com o celular, mas estávamos em 1994, e o que fizemos então foi anotar com calma, conferir e ter certeza de que não estava nada errado. E pra “ajudar”, as letras eram em Hiragana, nem pra ser o Katakana que, visualmente, seriam mais simples de anotar.
O segundo problema a gente resolveu, LIKE A BOSS, que era o fato de precisarmos de SEVEN SENCE, ou seja, a gente precisava de Sétimo Sentido, que neste jogo nada mais era do que “enchedor” para nossa barra de energia. Este Sétimo Sentido se conseguia passando por um mestre ou matando inimigos na tela, neste último caso o ganho de pontos era muito baixo, mas era uma alternativa.
Falando em matar inimigos, o jogo do CDZ pra Nintendinho tinha uma característica bem interessante, que era a seguinte: se você ficasse parado por muito tempo num mesmo lugar, pedras começavam a cair do céu em cima da sua cabeça e a tirar sua energia, logo, isso nos impossibilitava de ficar matando inimigos parado, tínhamos que ficar movendo o personagem pra lá e pra cá.
O TRUQUE DO DUREX
Foi então que descobrimos algo legal. Na tela do Máscara da Morte, quando ele te manda pro outro mundo, você tem que passar uma tela inteira até voltar à sala dele para finalmente lutar e tentar passar o mestre, mas um pouco antes de chegar no final desta tela no outro mundo, havia um canto específico que ao deixar o personagem parado, aquela pedra que caia do céu não ia direto na sua cabeça e, sim, um pouco a sua frente e se você apertasse o botão de soco o personagem acertava a pedra, o que dava 1 (um) ponto de Sétimo Sentido. Bingo!
Era o que a gente precisava, foi onde deixamos o personagem parado e colocamos um durex no botão do controle para que a cada pedra caída a gente ganhasse 1 ponto. Com a engenhoca montada, ali mantivemos o videogame ligado por 1 dia e meio, torcendo pra ninguém desligar ou encostar e dar um tilt. Ficamos acompanhando os pontos subirem, e claro que neste meio tempo a gente saía, via TV, dormia e etc. Depois desse tempo todo a gente tinha Sétimo Sentido de sobra e garanto que isso facilitou nossa vida dali em diante.
Continuamos tela a tela, perdemos algumas vezes, aprendemos como passar dos mestres e finalmente terminamos Os Cavaleiros do Zodíaco para Nintendinho. Como era normal passar férias na casa dos meus primos, eu terminei uma vez o jogo e o meu primo terminou outra, a gente sempre revezava as jogatinas do mesmo jogo, quase que um jogando de manhã e o outro de tarde, era muito legal. Missão concluída!
BATEU UM ARREPENDIMENTO
Uns 3 anos depois, comecei a vender meus cartuchos de NES e SNES porque eu queria comprar o tal de ULTRA 64 que seria lançado pela Nintendo (conto esta história na próxima coluna), e com isso fui vendendo aos poucos a minha coleção. Eu deixava os cartuchos na banca do meu pai (lembra, ele era camelô) e ia vendendo fácil, fácil, e no dia em que coloquei o CDZ lá pra vender, cartuchinho amarelo, vendeu rápido.
O moleque que comprou era até conhecido, eu o via durante o intervalo numa escola que eu estudei, mas não era amigo meu até então. O cara pagou 15 reais e sumiu no horizonte, levou o meu cartucho.
Eu já tinha vendido MUITOS cartuchos ali, mas nenhum antes tinha me dado aquele nó na garganta. Caramba, como eu me senti mal vendendo o meu CDZ, estava quase chorando, me arrependi muito. Porém, por conta do destino, o cara volta cerca de uma hora depois dizendo que o cartucho não tinha funcionado no videogame dele, eu não pensei duas vezes e já fui logo devolvendo o dinheiro dele, expliquei que podia ter algum defeito mesmo e não tinha problema, o motivo perfeito pra eu pegar o jogo de volta. Fiz a devolução imediatamente, a sorte não bate duas vezes e desta vez eu aproveitei que estava com ela. Guardei o cartucho no bolso e levei de volta pra casa.
AINDA FAZ PARTE DA COLEÇÃO
Depois daquele dia, nunca mais pensei em vender o meu cartucho do CDZ, vendi muitos outros, comprei outros tantos, mas este não saiu mais de perto de mim. Está velho, marcado, mas está comigo, ainda faz parte da minha coleção. Escrevi essa matéria com o cartucho aqui do meu lado, onde eu deixo os jogos que normalmente uso no meu Turbo Game, sensação boa demais. Tenho muitas histórias pra contar destes anos incríveis, que serão contadas aqui futuramente. Fique ligado em nosso site!